domingo, 30 de setembro de 2007

Caminhos...

 
Caminhante
De caminhos que se fazem ao caminhar,
Levando bagagem, mesmo sem lenço e sem documento,
Nada no bolso ou nas mãos.

Assim os africanos escravizados
Chegaram...
Não há grilhões que prendam as palavras,
A arte, a vontade, a organização.
Criaram, plantaram, fizeram esta nação!
Negar africanidades?
Raízes nos prendem neste chão.




quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Da janela extrema do meu quarto de dormir...



Vejo casas que se sobrepõem ao verde que eu via,
Tudo enquadrado,
A maioria do povo brasileiro reúne seus sonhos todos em caixinhas assim.
E a chamam moradia!
Comemora-se a Independência,
mas as pendências com esse povo continuam.
Até quando vamos desfilar aparatos nas avenidas,
E o povo...
Esse verá desfilar sonhos guardados nessas caixinhas
quando a chuva cair.

E os jornais estamparão manchetes de doações...
O povo?
Continua a insistir, resistir...
E pra não chorar...
Rir!!!








Presentes!

Presentes!
Presente no meu aniversário!

O que poetizam... (pra mim e de mim)

Poema

Sou um sujeito cheio de recantos.
Os desvãos me constam.
Tem hora, leio avencas.
Tem hora, Proust.
Ouço aves e beethovens.
Gosto de Bola-Sete e Charles Chaplin.

O dia vai morrer aberto em mim.

(Manoel de Barros)



E X A U S T O


Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente
Muito mais que raízes.

(Adélia Prado)

Poema de Mario Quintana em A cor do invisivel

Há três coisas cujo gosto não sacia
o pão, á água e o doce nome de Maria.


One Art

The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster,

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three beloved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

-- Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) a disaster.

(Elizabeth Bishop)

Die Liebenden
Friedrich Hölderlin

Trennen wollten wir uns? wähnten es gut und klug?
Da wirs taten, warum schröckte, wie Mord, die Tat?
Ach! wir kennen uns wenig,
Denn es waltet ein Gott in uns.


Identidade

Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"