sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Vende-se casa





Vende-se Casa.

Vende-se casa
Do tempo da última visita do cometa Halley.
Onde se ouviu “Alexandre e outros heróis”
iluminado por lampiões e estrelas.
Prendeu-se Bicho papão em armário.
Ofereceu-se criança pra lua criar
(Devolvida depois pela própria lua!)
Ralou-se gelo pra fazer água em pó.
Até vulcão nela fez erupção num trabalho escolar.

Vende-se casa.
Construída no caminho do vento.
Onde ele canta e dança indignado sempre 
seu caminho desviado.
Firme em sua base
Não apenas de pedra e cimento,
mas de muito sonho e sentimento.
Mãos amigas ajudaram plantar esse sonho no chão!

Vende-se casa.
Que tem ipê anunciando a primavera
E quaresmeira florida em janeiro.
Buganvílias colorindo o muro o ano inteiro.
E roseira emoldurada pela janela.
Capuchinha enfeitando a entrada.
Dos que chegam e dos que se vão.

Vende-se casa.
Aberta a imaginação.
A/os amigos/as e aos que virão...
Rodeada de bons vizinhos,
Essa casa parece ter coração.
O sol a visita e aquece,
a lua enfeita suas noites
no inverno, primavera, outono e verão.

Vende-se casa.
Que sabe a romã, jambo e pitanga,
Jabuticaba, acerola e tamarindo.
Cana, graviola e manga.
E promessa de uvas.
Parreira de chuchu,
Ora-pro-nóbis, pés de couve...
Além de cheiros verdes!

Vende-se casa.
Onde infâncias fizeram morada.
E a idade apreciada na sua sucessão,
Abriu-se pra festas e folia (de reis)
Na celebração da vida e na alegria da comunhão.
De paredes firmes e protetoras
Da chuva, do vento e medos,
decepções, anseios...
Que aconchegou sussurros, segredos e oração.
Com espaço pra outras idealizações...



Vende-se casa.
Em bom estado de conservação.
De muitos sonhos inacabada
Com muito espaço de acolhida.
Esperando novos projetos,
Pois a vida se eterniza todo dia
Com novos risos e alegrias!
Se acaso lhe interessar possa,
Estamos abertos a negociação.


Madu Galdino 30/09/2012

quarta-feira, 13 de junho de 2012

domingo, 27 de maio de 2012

Meu Deus, eu não creio...


MEU DEUS, EU NÃO CREIO...
                               (Michel Quoist)

Meu Deus, eu não creio
Que faças cair a chuva ou brilhar o sol,
por escolha,
por pedidos,
para que cresça o trigo do agricultor cristão,
ou tenha sucesso a quermesse do senhor padre.
Que tu concedas trabalho ao desempregado bem formado
e deixes os outros procurar
e nunca encontrar,
Que tu protejas do acidente
a criança cuja mãe rezou
e deixes morrer o garoto
que não tem mãe para implorar ao céu,
Que tu mesmo dês alimentos aos homens,
quando eles o pedem,
e que os deixes morrer de fome,
se cessarem de o implorar.
Meu Deus, eu não creio
Que tu nos conduzas para onde queres
e que só nos reste deixar-nos guiar,
Que tu nos mandes determinada provação
e que só nos reste aceitá-la,
Que tu nos concedas sucesso
E que só nos reste agradecer-te,
Que, quando assim o decides tu chames a ti
aquele a quem amamos
e que só nos reste a resignação.
Não, meu Deus, eu não creio
Que sejas ditador
que possui todos os poderes
e impões a tua vontade
para o bem do teu povo.
Que nós sejamos marionetes,
das quais puxas os fios
à tua maneira
E que nos faças atores de uma peça misteriosa,
de cuja representação estabeleceste,
desde o início, os mais ínfimos pormenores.
Não, eu não creio,
já não creio,
Pois agora sei, meu Deus,
que tu não o queres
e não o podes
Porque tu és AMOR
Porque tu és PAI
E nós somos os teus filhos.
Meu Deus, perdão,
Por durante tanto tempo termos desfigurado teu adorável Rosto
Críamos ser preciso,
para te conhecer e te compreender,
imaginar-te revestido ao infinito
do poder e da força,
com que sonhamos à maneira humana.
Usávamos as palavras certas
para pensar em ti e falar de ti,
mas em nossos corações fechados, essas palavras se tornaram armadilhas,
E nós traduzimos:
onipotência,
vontade,
mandamento,
obediência,
julgamento…
para nossa linguagem de homens orgulhosos
ansiosos por dominar nossos irmãos.
Atribuímos-te, então,
punições,
sofrimentos e mortes,
ao passo que tu quiseste para nós
o perdão,
a alegria e a vida.
Ó meu Deus, sim, perdão,
Porque não ousamos crer que, por amor,
desde sempre nos quiseste LIVRES.
Não apenas livres para dizer sim ou não
ao que tinhas de antemão decidido para nós,
mas livres para refletir,
escolher,
agir,
a cada instante da nossa vida.
Não ousamos crer
que de tal forma quiseste essa liberdade
Que arriscaste o pecado,
o mal,
o sofrimento,
frutas podres da nossa liberdade desgarrada,
horrível paixão do teu amor escarnecido,
Que arriscaste assim perder,
Aos olhos dos filhos teus,
a tua auréola de bondade infinita
e a glória da tua onipotência.
Não ousamos, enfim, compreender
Que, quando a nossos olhos quiseste definitivamente te revelar,
Viste sobre esta terra,
pequeno,
fraco,
Nu.
E que morreste preso na cruz,
abandonado,
impotente,
Nu.
Para dizeres ao mundo que o teu único poder
É o Poder infinito do Amor,
Amor que nos liberta,
Para que nós possamos amar.
Ó meu Deus, sei agora que tu podes tudo
… menos tirar-nos a liberdade!
Obrigado, meu Deus, por esta bela e assustadora liberdade,
oferta suprema do teu amor infinito.
Nós somos livres!
Livres!
Livres para conquistar, pouco a pouco, a natureza,
para a colocar
ao serviço dos irmãos,
Ou livres para a des-naturar,
explorando a nosso bel-prazer,
Livres para defender e desenvolver a vida,
para combater todos os sofrimentos
e todas as doenças,
Ou livres para desperdiçar inteligência, energia, dinheiro,
em fabricar armas
e nos matarmos uns aos outros.
Livres para te dar filhos ou de os recusar,
Para nos organizar em partilhar nossas riquezas,
Ou deixar milhares de homens
morrer de fome sobre a terra fértil.
Livres para amar
Ou livres para odiar.
Livres para te seguir
Ou te recusar.
Nós somos livres…
Mas amados INFINITAMENTE.
Por isso, meu Deus, eu creio
Que, porque tu nos amas e és nosso Pai,
Desde sempre nos transmitistes uma felicidade eterna,
que incessantemente nos propões
mas nunca nos impões.
Eu creio que o teu Espírito de amor,
no coração da nossa vida,
nos segreda fielmente, cada dia,
o desejo de teu Pai.
Eu creio que, no meio do imenso emaranhado
das liberdades humanas,
Os acontecimentos que nos atingem,
Os que escolhemos,
Sejam bons ou maus,
Fonte de alegrias ou de cruéis sofrimentos,
Podem, todos eles,
Graças ao teu Espírito que nos acompanha
Graças a ti que nos amas em teu Filho
Graças a nossa liberdade que se abre a teu AMOR
Tornar-se, por nós e para nós,
Sempre providenciais.
Ó meu grande Deus amante,
Diante de mim tão humilde, tão discreto,
que eu só poderei alcançar e compreender
se me tornar criança,
Faz-me crer, com todas as minhas forças,
Em tua única Onipotência:
A Onipotência do teu AMOR.
Poderei, então, um dia, com meus irmãos reunidos,
Orgulhoso por ter vivido minha vocação de homem livre,
Transbordando de felicidade,
Ouvir-te dizer:
“Vá, meu filho, a sua fé o salvou”.
(Michel Quoist, in Novos Poemas para Rezar).

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Um pé na África

Quem disse que tenho um pé na Senzala?
Eu tenho é um pé na África!



Foto depois de assistir Galanga, Chico Rei!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Presentes!

Presentes!
Presente no meu aniversário!

O que poetizam... (pra mim e de mim)

Poema

Sou um sujeito cheio de recantos.
Os desvãos me constam.
Tem hora, leio avencas.
Tem hora, Proust.
Ouço aves e beethovens.
Gosto de Bola-Sete e Charles Chaplin.

O dia vai morrer aberto em mim.

(Manoel de Barros)



E X A U S T O


Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente
Muito mais que raízes.

(Adélia Prado)

Poema de Mario Quintana em A cor do invisivel

Há três coisas cujo gosto não sacia
o pão, á água e o doce nome de Maria.


One Art

The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster,

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three beloved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

-- Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) a disaster.

(Elizabeth Bishop)

Die Liebenden
Friedrich Hölderlin

Trennen wollten wir uns? wähnten es gut und klug?
Da wirs taten, warum schröckte, wie Mord, die Tat?
Ach! wir kennen uns wenig,
Denn es waltet ein Gott in uns.


Identidade

Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"