quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Apenas um discurso

DISCURSO DO EMBAIXADOR MEXICANO


Um discurso feito pelo embaixador Guaicaípuro Cuatemoc, de descendência indígena, sobre o pagamento da dívida externa do seu país, o México, embasbacou os principais chefes de Estado da Comunidade Européia.


A conferência dos chefes de Estado da União Européia, Mercosul e Caribe, em Madri, viveu um momento revelador e surpreendente: os chefes de Estado europeus ouviram perplexos e calados um discurso irônico, cáustico e de exatidão histórica que lhes fez Guaicaípuro Cuatemoc.


Eis o discurso:

"Aqui estou eu,descendente dos que povoaram a América há 40 mil anos, para encontrar os que a"descobriram" só há 500 anos.. O irmão europeu da aduana me pediu um papel escrito, um visto, para poder descobrir os que me descobriram. O irmão financista europeu me pede o pagamento - ao meu país- ,com juros, de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei que me vendesse. Outro irmão europeu me explica que toda dívida se paga com juros, mesmo que para isso sejam vendidos seres humanos e países inteiros sem pedir-lhes consentimento. Eu também posso reclamar pagamento e juros. Consta no "Arquivo da Cia. das Índias Ocidentais" que, somente entre os anos 1503 e 1660, chegaram a São Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América.


Teria sido isso um saque? Não acredito,porque seria pensar que os irmãos cristãos faltaram ao sétimo mandamento!

Teria sido espoliação? Guarda-me Tanatzin de me convencer que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue doirmão.

Teria sido genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomeu de Las Casas ou Arturo Uslar Pietri,que afirmam que a arrancada do capitalismo e a atual civilização européia se devem à inundação de metais preciosos tirados das Américas.


Não, esses 185 mil quilos de ouro e 16milhões de quilos de prata foram o primeiro de tantos empréstimos amigáveis da América destinados ao desenvolvimento da Europa. O contrário disso seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito a exigir não apenas a devolução, mas indenização por perdas e danos.


Prefiro pensar na hipótese menosofensiva.

Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o início de um plano "MARSHALL MONTEZUMA", para garantir a reconstrução da Europa arruinada por suas deploráveis guerras contra os muçulmanos,criadores da álgebra e de outras conquistas da civilização.

Para celebrar o quinto centenário desse empréstimo, podemos perguntar: Os irmãos europeus fizeram uso racional responsável ou pelo menos produtivo desses fundos?


Não. No aspecto estratégico, dilapidaram nas batalhas de Lepanto, em navios invencíveis, em terceiros reichs e várias formas de extermínio mútuo.

No aspecto financeiro, foram incapazes,depois de uma moratória de 500 anos, tanto de amortizar o capital e seus juros quanto independerem das rendas líquidas, das matérias-primas e da energia barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo.


Este quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman, segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar e nos obriga a reclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e dos juros que, tão generosamente, temos demorado todos estes séculos em cobrar. Ao dizer isto,esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus, as mesmas vis e sanguinárias taxas de 20% e até 30% de juros ao ano que os irmãos europeus cobram dos povos do Terceiro Mundo.


Nos limitaremos a exigir a devolução dos metais preciosos, acrescida de um módico juro de 10%, acumulado apenas durante os últimos 300 anos, com 200 anos de graça. Sobre esta base e aplicando a fórmula européia de juros compostos, informamos aos descobridores que eles nos devem 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, ambas as cifras elevadas à potência de 300, isso quer dizer um número para cuja expressão total será necessário expandir o planeta Terra.


Muito peso em ouro e prata... quanto pesariam se calculado sem sangue?


Admitir que a Europa, em meio milênio,não conseguiu gerar riquezas suficientes para esses módicos juros, seria como admitir seu absoluto fracasso financeiro e a demência e irracionalidade dos conceitos capitalistas.


Tais questões metafísicas, desde já, não inquietam a nós, índios da América. Porém, exigimos assinatura de uma carta de intenções que enquadre os povos devedores do Velho Continente e que os obriguem a cumpri-la, sob pena de uma privatização ou conversão da Europa, de forma que lhes permitam entregar suas terras, como primeira prestação de dívida histórica..."


Quando terminou seu discurso diante dos chefes de Estado da Comunidade Européia, Guaicaípuro Guatemoc não sabia que estava expondo uma tese de Direito Internacional para determinar a verdadeira Dívida Externa.

domingo, 4 de outubro de 2009

Solo Le Pido... Adios!!!

Solo Le Pido a Dios
Léon Gieco
Canta Mercedes Sosa

Solo le pido a Dios
Que el dolor no me sea indiferente,
Que la reseca
Muerta no me encuentre
Vacio y solo sin haber hecho lo suficiente.
Solo le pido a Dios
Que lo injusto no me sea indiferente,
Que no me abofeteen la otra mejilla
Despues que una garra me araño esta suerte.
Solo le pido a Dios
Que la guerra no me sea indiferente,
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente.
Solo le pido a Dios
Que el engaño no me sea indiferente
Si un traidor puede mas que unos cuantos,
Que esos cantos no lo olviden facilmente.
Solo le pido a Dios
Que el futuro no me sea indiferente,
Desahuciado esta el que tiene que marchar
A vivir una cultura diferente.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Re pa ra ção!


REPARAÇÃO JÁ!
PEREIRA, Juliano Gonçalves*
Enquanto não houver reparação neste país, a violência tende a aumentar.
A velocidade da vida contemporânea alienada pelo capitalismo selvagem leva-nos a refletir sobre a frase de Karl Marx “O animal se torna humano e o humano se torna animal” no final do primeiro de seus manuscritos, ainda no início do sec. XIX.
Fatos como o entendimento do assassinato do jovem assaltante com a granada na mão no centro do Rio de Janeiro há alguns dias atrás não mais assusta nossa sociedade. Um tiro certeiro na cabeça, uma execução em plena luz do dia, reproduzida em todos os telejornais da televisão brasileira, foi recebido com aplausos e aclamações pelo animal humano que acompanhava os minutos de tensão, que livrou a jovem moça de classe média da morte, e elevou o policial a condição de “Herói brasileiro”. O sensacionalismo da mídia, as deturpações do fato e das imagens impossibilitaram a nós telespectadores a refletir o valor da vida e do ser humano na sociedade brasileira, assim como do verdadeiro papel da polícia que só existe excepcionalmente com a tarefa de nos proteger.
Para os policiais que tentavam convencer o jovem assaltante a se entregar, o valor de uma vida não excedeu mais que 40 minutos do seu longo dia de trabalho. 40 minutos foi o suficiente para que o atirador julgasse de forma pragmática que a vida do assaltante deveria chegar ao fim. Não quero aqui fazer apologia ao crime, muito menos minimizar a culpa do jovem negro que foi executado pelo policial, penso que todo crime é passível de punição por isso luto por um novo modelo de segurança pública, exercitando meu papel de protagonista ajudando meu país a se tornar um país melhor para se viver, por isso julgo que os policiais negociadores foram infelizes por não ter conseguido convencê-lo a se entregar. Penso que o Estado brasileiro precisa urgentemente reparar os crimes históricos a sua população, sobretudo os mais pobres que em sua maioria são negros, ou situações como essa tendem a se repetir.
Desejo aqui incitá-los a uma breve reflexão sobre alguns dos acontecimentos deste mês de setembro de 2009. O governo federal divulgou na mídia nacional a “Política Nacional de Saúde do Homem”, com recortes de dados que assustam agente do quantitativo de homens que morrem por causas evitáveis neste país. Peço licença para pontuar que na propaganda que comumente vem sendo circulada, esqueceram de mostrar os rostos de quem mais morre que são os jovens negros e de quem mais mata que são os policiais. Os dados empíricos do IPEA (2008) não negam, jovens negros são exterminados dia pós dia, boa parte deles por policiais como no fato ocorrido dias atrás.
Algumas indagações que não me sai da mente:
Será qual foi o motivo do assalto néscio daquele jovem?
Será que ele tinha família?
Será que ele tinha filhos?
Será se ele estudou?
Será se tinha emprego?
Qual era o nome do garoto?
Quantos anos tinha?
Será se ele tinha sonhos?
Estas perguntas não me deixaram dormir nesses últimos dias. Não sei por que, mais por mais estúpido que tenha sido o garoto, por mais infantil que foi o ato de render aquela moça que durante 40 minutos ficou acuada com a granada em sua mão, imagino que alguém tenha chorado pela vida que se foi... tão rápida e tão barata... tão fácil...
Uma canção nascida nos subúrbios brasileiros revela “A carne mais barata do mercado é a carne negra...” depois desse episódio entendo melhor a letra.
Como nos tornamos tão animais? Como nos desprendemos do humano e galgamos nossas certezas em sentimentos tão rudes e animalescos? Perdemos a noção do valor insubstituível da vida. Conversando sobre o assunto com alguns dos meus, percebo o quanto já se naturalizou tamanha barbárie. A dicotomia entre a vida e a morte. A corda sempre quebra do lado mais fraco.
Sei das justificativas obvias e latentes que levaram o policial a tomar tal atitude, elas foram mais que explicadas nos jornais, na entrevista da garota refém e na fala do próprio policial “herói”, mas fico pensando na possibilidade de ter havido mais 10 minutos de conversa, mais cinco minutinhos, será que ele não se entregaria? Ou ainda me pergunto, será que o olhar genuíno do garoto assustado com a condição que o assalto havia o levado não faria dos policiais negociadores os verdadeiros heróis daquela tarde?
Infelizmente o que consigo apurar ao fim dessa reflexão, é que nossos policiais devem ser mais bem treinados e preparados para negociar e para serem mais bem sucedidos com a manutenção da vida em caso como este, ou continuaremos tendo uma das polícias que mais mata no mundo, responsável pelos autos índices de homicídio do país.
A cena do tiro certeiro na cabeça do garoto com tamanha brutalidade que arranca seu boné não me sai da cabeça. Sentenciado a morte por um crime que não deu certo. Aquele garoto estava mais assustado que todos ao seu redor, seu medo aparente era tamanho que por várias vezes retirou e colocou o pino da granada, nem imaginava que sua vida estava por um fio.
Confesso não identificar quem foi à maior vítima nesta história. Embora com todas as acusações e provas e com o fato consumado, ainda assim não sei quem mais foi vítima. Segundo os argumentos de Marx, o sistema capitalista produz esse sujeito, pois a divisão injusta de bens que ainda hoje produz milhares de miseráveis obriga as pessoas a transgredirem contra o Estado. Associado ao racismo inconstitucional que qualifica bem o lugar de um jovem negro sempre fadado ao subemprego, ao serviço braçal, a subserviência, resulta neste ser bandido, assaltante que rouba, mata e morre. A reparação material que foi negada após 13 de maio de 1888, dia da abolição da escravidão, já rende hoje 121 anos, e ainda os negros estão nos piores lugares e nas piores condições sociais deste país, fazendo do racismo nas palavras de Kabengele Munanga um crime perfeito e da geografia do corpo um fator primordial para a execução.
Engraçado como a injustiça é latente no Brasil. A real democracia ainda está longe de acontecer. Nesta mesma semana um empresário destruiu mais de um quarteirão no centro de São Paulo, vitimando vários inocentes, destruindo patrimônios públicos e particulares, trazendo medo, terrorismo e horror ao povo brasileiro, diferente da cena com o jovem assaltante com a granada na mão que não explodiu, mas que o levou a morte, enquanto o empresário foi mais uma vez sentenciado e responde em liberdade todas as acusações.
Isso precisa mudar, porque enquanto o estado não fizer as reparações históricas ao seu povo abandonado nas favelas e guetos, nas periferias, subúrbios e semáforos a violência tende a aumentar, o número de jovens assassinados continuará a subir e a sociedade brasileira se distanciará cada vez mais de uma sociedade de humanos, confirmando o que já dizia Karl Max e eu sinceramente não suporto mais presenciar tudo isso.
Precisamos de um mundo melhor;
Precisamos rápido de um país mais justo e igualitário, ou então mais pessoas tenderão a morrer e eu não quero ser a próxima vítima.
Juliano Gonçalves Pereira é Preto do Quilombo Urbano Pereiruxe, Professor, Pesquisador, Graduado em Educação Física pela Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES, acadêmico do curso de História pelo Instituto de Educação Superior Ibituruna – ISEIB; Diretor do Centro de Restauração e Desenvolvimento Humano para Dependentes de Substâncias Psicoativas Rainha da Paz, Membro do Centro de Referência Cultural de Montes Claros Capoeirando, Membro da Rede Nacional de Controle Social e Saúde da População Negra e da Rede Lai Lai Apejo, e Representante da Juventude Negra de Minas Gerais na Coordenação do Fórum Nacional de Juventude Negra.

Presentes!

Presentes!
Presente no meu aniversário!

O que poetizam... (pra mim e de mim)

Poema

Sou um sujeito cheio de recantos.
Os desvãos me constam.
Tem hora, leio avencas.
Tem hora, Proust.
Ouço aves e beethovens.
Gosto de Bola-Sete e Charles Chaplin.

O dia vai morrer aberto em mim.

(Manoel de Barros)



E X A U S T O


Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente
Muito mais que raízes.

(Adélia Prado)

Poema de Mario Quintana em A cor do invisivel

Há três coisas cujo gosto não sacia
o pão, á água e o doce nome de Maria.


One Art

The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster,

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three beloved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

-- Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) a disaster.

(Elizabeth Bishop)

Die Liebenden
Friedrich Hölderlin

Trennen wollten wir uns? wähnten es gut und klug?
Da wirs taten, warum schröckte, wie Mord, die Tat?
Ach! wir kennen uns wenig,
Denn es waltet ein Gott in uns.


Identidade

Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"