Enquanto professora promovi meus/minhas alunos/as a serem sujeitos da História sem dela se tornarem reféns?
Eu lecionei a todos eles
Tenho ensinado, no ginásio, por dez anos. Durante esse tempo, eu lecionei, entre outros, a um assassino, a um evangelista, a um pugilista, a um ladrão e a um imbecil.
O assassino era um menino que sentava no lugar da frente e me olhava com seus olhos azuis; o evangelista era o mais popular da escola, era o líder dos jogos entre os mais velhos; o pugilista ficava parado perto da janela e, de vez em quando, soltava uma gargalhada abafada que até fazia tremer os gerâneos; o ladrão era um coração alegre, diria libertino, um pequenito animal de olhar macio, dócil, procurando as sombras.
O assassino espera, hoje, a morte numa penitenciária do Estado; o evangelista está enterrado, há um ano, no cemitério da Vila; o pugilista perdeu um olho numa briga, em Hong Kong; o ladrão, na ponta dos pés, pode ver, da prisão, as janelas do meu quarto; o imbecil, de olhar macio, bate com a cabeça na parede formada de uma cela, no Asilo Municipal.
Todos eles, um dia, sentaram em minha aula; sentaram e olharam para mim, gravemente, desde as suas carteiras escuras e usadas.
Eu devo ter sido uma grande ajuda para esses alunos.
Eu lhes ensinei o esquema da rima dos sonetos elizabetanos e como colocar em diagrama uma sentença completa...
Texto de M. John White (traduzido e adaptado por Maria Aldina Silveira Furtado).
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