Despedida
Sai para nosso encontro naquela tarde, fui disposta a lhe dizer que não a queria ver mais naquele lugar espremidinho e asséptico. No Natal havia ficado o vácuo da sua ausência. Ao chegar, notei que naquele espaço pequeno havia mais apetrechos que me fizeram intuir que havia tido uma luta pela vida. Mostravam ter reativado o coração. Olhei o enfermeiro de plantão e ele parecia não ter palavras pra me dizer. Apenas me falou que o responsável se encontraria comigo ao final da visita. Meus olhos vasculharam o ambiente à procura de outros sinais. Fixei-me no corpo que ali estava deitado. Olhos fechados, respiração difícil. Enfiei minhas mão debaixo das cobertas, como sempre o fazia a cada visita, procurando o calor das suas mãos e do seu colo e não o encontrei. Meu coração ficou miudinho no meu peito, parecia que até o ar escapulira daquele lugar. Isso me deu coragem e para lhe dizer:
Mãe, não é isso que quero pra você. Não quero vê-la assim nesses aparelhos, deitada nessa cama sem seu riso gargalhante, sem os abraços apertados, sem seu olhar feroz por causa das nossas brincadeiras... Lá em casa está tudo ajeitado. Os meninos já não precisam de cuidados, já estão encaminhados. E que fora a saudade eu estava bem. Fui taxativa e lhe disse que podia ir.
Ao sair, fui ter me com o médico de plantão. Ele me disse com olhar atento: na medicina se temos uma porta pra abrir, a gente abre. Se tivermos janelas também vamos buscar saídas... E que tudo o que poderia ser feito, havia sido feito.
Sai de lá um tanto aérea. Um tanto não eu.
Chegando em casa, telefonei e avisei parentes e amigos que poderiam vir se despedir. Cada um tinha um pouco de médico e de curandeiro para adiar aquele momento. Ouvi-os e depois de um banho relaxante, fui dormir.
Mal havia me ajeitado pra dormir, depois de chorar nos braços que me abraçavam, o telefone tocou. Recusei-me a atendê-lo. Aquela notícia eu jamais quisera ouvir.
Já faz onze anos deste adeus. Sinto a ausência, mas lembro dos risos, dos abraços, das histórias que contava, do sabor de seu tempero, do su cheiro, do som da sua voz. Lembro de seu nervosismo e de como me exemplava e das surras de carinho que me dava. É assim que ela permanece (é) terna!
Maria do Carmo Barbosa Galdino
Madu Galdino 27/12/2014