Sou do tempo em que namoro começava com um olhar. Olhar que se surpreendia em descobrir um outro que também o olhava. Essa linha que estabelecia uma ligação invisível entre dois seres. O olhar, a primeira carícia que existia. Sempre buscava o outro olhar que o encantava. Averiguava, indagava, descobria, acompanhava, apreciava o olhar que olhava. Havia sempre olhares outros que acompanhavam esses olhares trocados. Marcava o encontro. Momento único de olhar que se aproximava do outro olhar. Conhecia-se o outro pela palavra que guardava. A fala e a audição ganhavam seu tempo de delícias. A palavra se tornava outro liame. Pela palavra o afeto se estabelecia. Palavra que desvela um ao outro. Outra etapa que inebriava. O som da voz da pessoa, que antes olhava, tornava-se uma música que não se cansava de ouvir. A entonação, a melodia da voz modulava os encontros, acompanha os sonhos e tornava novidade os dias que se vivia. Esse era o momento do início do namoro, quando a voz e ouvido se encontravam. Passado um tempo em que a palavra se tornava desejada, percebia-se o toque de dedos, mãos que se esbarravam. Eram sensações inefáveis. Ia do enrubescimento à taquicardia. Até o momento em que as mãos se abraçavam. Sentiam a maciez ou a aspereza do toque. Brincavam dedos com dedos. Entrelaçavam-se. Os olhos descobriam as mãos e observavam linhas, aperto... Novamente o tempo se perdia no toque, na carícia que se estabelecia. E cada momento era marcado por uma música que se fazia ouvir.
Era assim que aos poucos o namoro se fazia: carícia de olhares, gestos, toques, som de vozes. O beijo acontecia como se selasse todo esse percurso de descobertas. Era o auge. Tão esperado. Tão sonhado! Acontecia entre olhares, murmúrios, mãos que se tocavam e buscavam o rosto que tanto inebriava. Momento único. sempre lembrado, sobretudo pela menina que vivia esse tempo de novidade e descoberta.
No dia 16/11, serão 45 anos. Sempre comemoramos esse momento da palavra. Foi o dia em que cada um se deu a conhecer pela palavra pronunciada. Início de namoro. E até hoje temos esse hábito de falar um para o outro. Muitas palavras já trocamos. Tantas palavras já ouvimos um do outro! Palavras que nos permitem sempre esperar novos dias, pois certamente haverá ainda muito a dizer, muito ainda será palavrável.
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