Natal
Natal para mim é um tempo. Tempo de preparativos, de arrumações e de espera.
Dias bem antes do dia de Natal, o Natal já se fazia presente quando lavávamos uma por uma as louças da cristaleira, passávamos uma limpeza do teto ao chão da casa, renovávamos as roupas da cama e enfeitávamos a casa para a ocasião, árvore de natal, presépio e luzes, que não eram as iluminações de hoje, mas velas, lindas velas que nos hipnotizam com a sua bruxuleante chama. Tudo isso acontecia concomitantemente aos preparativos na cozinha. Sete tipos de doces diferentes, o doce verde, o doce branco, o doce de fruta, o doce de leite, pudim, arroz doce e o que não podia faltar - o doce de figo. Ralar cidras, descascar laranjas da terra, raspar figos, deixar de molho pro sabor ficar no ponto, pra garantir o verde dos doces, tudo tinha uma ciência e um ritual. Também havia o preparo das carnes. O porco era sacrificado para que o pernil não faltasse e carnes, toucinho distribuidos entre os vizinhos para a fartura do Natal. Peru que precisava ficar bêbado para o sacrifício. Tudo isso exigia uma cerimônia própria que envolvia a todos na família. Sempre tive dó dos bichos e nunca me deixavam por perto, quando os iam matar. Mãe dizia que eles demoravam a morrer se eu estivesse por lá. Assim sempre tinha uma tarefa, ir buscar alguma vasilha na casa de alguém, ou saber se estavam bem... O bacalhau não podia faltar na véspera de Natal. Preparava-se a famosa bacalhoada para o almoço e na ceia deliciávamos com outros tipos de carnes. Frutas natalinas, tanto a uva, o abacaxi, a melancia, quanto as castanhas portuguesa e do Pará. Nozes, amendoas e avelãs eram quebradas nas quinas das portas, fazendo a alegria das crianças com essas guloseimas da ocasião. Músicas natalinas e chuvinha faziam o clima do ambiente. Na véspera do Natal, o pão envelhecido ganhava destaque no preparo das rabanadas, verdadeiro manjar dos deuses.
Nunca vivi outro tempo como esse!
No dia de Natal, as visitas, o tempo de oração, a mesa repleta de pratos, cada um mais apetitoso do que o outro e cada um se servindo da fraternura, das memórias e histórias que nos aproximavam de todos os tempos e de todos que se faziam presentes mesmo não estando ali.
Os adultos que recebiam presentes dos/as amigos/as e ou vizinhos/as ficavam preocupados com a retribuição dos mesmos atéo o dia de Reis. O Natal nos tornavam a todos e todas próximos, comunitários...
As crianças ficavam extasiadas com os presentes de Papai Noel. Para ter os presentes também era necessário um preparativo: engraxar e lustrar os sapatos que seriam colocados perto da janela. Sapatos mal cuidados ou sujos não receberiam presentes. Alegria e brincadeiras extrapolavam o muro das casas e tomavam o passeio da rua.
Esse tempo era eterno.
Esse tempo ficou eterno na minha memória e transformam meus natais num misto de saudade e esperança.
Maria do Carmo (Madu) Barbosa Galdino
23/12/2013
Spicula, termo usado por uma mulher diplomada na sabedoria da vida e que influenciou radicalmente o meu modo de ver e encarar o mundo, a vida e as pessoas.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
sábado, 21 de setembro de 2013
Vida no interior
Casa bem arejada
mulheres tagarelam na rua
pássaros voam no jardim
flores a perfumar
poeira no ar.
Pano pra limpar
Canto de ave pra embalar o dia
Céu azul pra apreciar.
Depois da casa arrumada...
Só assim pra perceber
Que vidinha mais besta, meu Deus!
mulheres tagarelam na rua
pássaros voam no jardim
flores a perfumar
poeira no ar.
Pano pra limpar
Canto de ave pra embalar o dia
Céu azul pra apreciar.
Depois da casa arrumada...
Só assim pra perceber
Que vidinha mais besta, meu Deus!
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
Destinatário certo
Destinatário Certo
Cuidadosamente preparei a encomenda.
Embalagem caprichada, conteúdo de histórias e emoções recheado.
Enviei em postagem simples.
Tinha endereço certo
E certo o destinatário que a receberia.
Certamente agradaria o que a embalagem continha.
Dias escoaram em semanas... Meses?
Retorna-me a postagem...
Conteúdo intacto,
Embalagem sem violação.
O carteiro justificou a devolução:
Não recebem encomendas de postagem simples.
Só com AR, Registrada ou Sedex
Acompanhada de atestado de sanidade mental
do remetente.
Abri a embalagem que fizera,
Despejei o conteúdo numa taça
Agora o sorvo vagarosamente
Nestes dias da minha vida!
segunda-feira, 22 de julho de 2013
Lua ispia
A lua veio "ispiá" onde moro,
Só pra dizer pra você,
Da gostosura do lugar,
E você... vir me visitar!
sexta-feira, 5 de abril de 2013
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Vende-se casa
Vende-se Casa.
Vende-se casa
Do tempo da última visita do cometa Halley.
Onde se ouviu “Alexandre e outros heróis”
iluminado por lampiões e estrelas.
Prendeu-se Bicho papão em armário.
Ofereceu-se criança pra lua criar
(Devolvida depois pela própria lua!)
Ralou-se gelo pra fazer água em pó.
Até vulcão nela fez erupção num trabalho escolar.
Vende-se casa.
Construída no caminho do vento.
Onde ele canta e dança indignado sempre
seu caminho desviado.
Firme em sua base
Não apenas de pedra e cimento,
mas de muito sonho e sentimento.
Mãos amigas ajudaram plantar esse sonho no chão!
Vende-se casa.
Que tem ipê anunciando a primavera
E quaresmeira florida em janeiro.
Buganvílias colorindo o muro o ano inteiro.
E roseira emoldurada pela janela.
Capuchinha enfeitando a entrada.
Dos que chegam e dos que se vão.
Vende-se casa.
Aberta a imaginação.
A/os amigos/as e aos que virão...
Rodeada de bons vizinhos,
Essa casa parece ter coração.
O sol a visita e aquece,
a lua enfeita suas noites
no inverno, primavera, outono e verão.
Vende-se casa.
Que sabe a romã, jambo e pitanga,
Jabuticaba, acerola e tamarindo.
Cana, graviola e manga.
E promessa de uvas.
Parreira de chuchu,
Ora-pro-nóbis, pés de couve...
Além de cheiros verdes!
Vende-se casa.
Onde infâncias fizeram morada.
E a idade apreciada na sua sucessão,
Abriu-se pra festas e folia (de reis)
Na celebração da vida e na alegria da comunhão.
De paredes firmes e protetoras
Da chuva, do vento e medos,
decepções, anseios...
Que aconchegou sussurros, segredos e oração.
Com espaço pra outras idealizações...
Vende-se casa.
Em bom estado de conservação.
De muitos sonhos inacabada
Com muito espaço de acolhida.
Esperando novos projetos,
Pois a vida se eterniza todo dia
Com novos risos e alegrias!
Se acaso lhe interessar possa,
Estamos abertos a negociação.
Madu Galdino 30/09/2012
quarta-feira, 13 de junho de 2012
Monitoria para Cabelos: Referenciais para Crianças ( e Adultos)
Monitoria para Cabelos: Referenciais para Crianças ( e Adultos): Semana passada uma foto, já antiga, do Obama rodou o mundo: o garotinho Jacob Philadelphia pediu para tocar no cabelo do Obama, pois el...
domingo, 27 de maio de 2012
Meu Deus, eu não creio...
MEU DEUS, EU NÃO CREIO...
(Michel Quoist)
Meu Deus, eu não creio
Que faças cair a chuva ou brilhar o sol,
por escolha,
por pedidos,
para que cresça o trigo do agricultor cristão,
ou tenha sucesso a quermesse do senhor padre.
Que tu concedas trabalho ao desempregado bem formado
e deixes os outros procurar
e nunca encontrar,
Que tu protejas do acidente
a criança cuja mãe rezou
e deixes morrer o garoto
que não tem mãe para implorar ao céu,
Que tu mesmo dês alimentos aos homens,
quando eles o pedem,
e que os deixes morrer de fome,
se cessarem de o implorar.
Meu Deus, eu não creio
Que tu nos conduzas para onde queres
e que só nos reste deixar-nos guiar,
Que tu nos mandes determinada provação
e que só nos reste aceitá-la,
Que tu nos concedas sucesso
E que só nos reste agradecer-te,
Que, quando assim o decides tu chames a ti
aquele a quem amamos
e que só nos reste a resignação.
Não, meu Deus, eu não creio
Que sejas ditador
que possui todos os poderes
e impões a tua vontade
para o bem do teu povo.
Que nós sejamos marionetes,
das quais puxas os fios
à tua maneira
E que nos faças atores de uma peça misteriosa,
de cuja representação estabeleceste,
desde o início, os mais ínfimos pormenores.
Não, eu não creio,
já não creio,
Pois agora sei, meu Deus,
que tu não o queres
e não o podes
Porque tu és AMOR
Porque tu és PAI
E nós somos os teus filhos.
Meu Deus, perdão,
Por durante tanto tempo termos desfigurado teu adorável Rosto
Críamos ser preciso,
para te conhecer e te compreender,
imaginar-te revestido ao infinito
do poder e da força,
com que sonhamos à maneira humana.
Usávamos as palavras certas
para pensar em ti e falar de ti,
mas em nossos corações fechados, essas palavras se tornaram armadilhas,
E nós traduzimos:
onipotência,
vontade,
mandamento,
obediência,
julgamento…
para nossa linguagem de homens orgulhosos
ansiosos por dominar nossos irmãos.
Atribuímos-te, então,
punições,
sofrimentos e mortes,
ao passo que tu quiseste para nós
o perdão,
a alegria e a vida.
Ó meu Deus, sim, perdão,
Porque não ousamos crer que, por amor,
desde sempre nos quiseste LIVRES.
Não apenas livres para dizer sim ou não
ao que tinhas de antemão decidido para nós,
mas livres para refletir,
escolher,
agir,
a cada instante da nossa vida.
Não ousamos crer
que de tal forma quiseste essa liberdade
Que arriscaste o pecado,
o mal,
o sofrimento,
frutas podres da nossa liberdade desgarrada,
horrível paixão do teu amor escarnecido,
Que arriscaste assim perder,
Aos olhos dos filhos teus,
a tua auréola de bondade infinita
e a glória da tua onipotência.
Não ousamos, enfim, compreender
Que, quando a nossos olhos quiseste definitivamente te revelar,
Viste sobre esta terra,
pequeno,
fraco,
Nu.
E que morreste preso na cruz,
abandonado,
impotente,
Nu.
Para dizeres ao mundo que o teu único poder
É o Poder infinito do Amor,
Amor que nos liberta,
Para que nós possamos amar.
Ó meu Deus, sei agora que tu podes tudo
… menos tirar-nos a liberdade!
Obrigado, meu Deus, por esta bela e assustadora liberdade,
oferta suprema do teu amor infinito.
Nós somos livres!
Livres!
Livres para conquistar, pouco a pouco, a natureza,
para a colocar
ao serviço dos irmãos,
Ou livres para a des-naturar,
explorando a nosso bel-prazer,
Livres para defender e desenvolver a vida,
para combater todos os sofrimentos
e todas as doenças,
Ou livres para desperdiçar inteligência, energia, dinheiro,
em fabricar armas
e nos matarmos uns aos outros.
Livres para te dar filhos ou de os recusar,
Para nos organizar em partilhar nossas riquezas,
Ou deixar milhares de homens
morrer de fome sobre a terra fértil.
Livres para amar
Ou livres para odiar.
Livres para te seguir
Ou te recusar.
Nós somos livres…
Mas amados INFINITAMENTE.
Por isso, meu Deus, eu creio
Que, porque tu nos amas e és nosso Pai,
Desde sempre nos transmitistes uma felicidade eterna,
que incessantemente nos propões
mas nunca nos impões.
Eu creio que o teu Espírito de amor,
no coração da nossa vida,
nos segreda fielmente, cada dia,
o desejo de teu Pai.
Eu creio que, no meio do imenso emaranhado
das liberdades humanas,
Os acontecimentos que nos atingem,
Os que escolhemos,
Sejam bons ou maus,
Fonte de alegrias ou de cruéis sofrimentos,
Podem, todos eles,
Graças ao teu Espírito que nos acompanha
Graças a ti que nos amas em teu Filho
Graças a nossa liberdade que se abre a teu AMOR
Tornar-se, por nós e para nós,
Sempre providenciais.
Ó meu grande Deus amante,
Diante de mim tão humilde, tão discreto,
que eu só poderei alcançar e compreender
se me tornar criança,
Faz-me crer, com todas as minhas forças,
Em tua única Onipotência:
A Onipotência do teu AMOR.
Poderei, então, um dia, com meus irmãos reunidos,
Orgulhoso por ter vivido minha vocação de homem livre,
Transbordando de felicidade,
Ouvir-te dizer:
“Vá, meu filho, a sua fé o salvou”.
(Michel Quoist, in Novos Poemas para Rezar).
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Um pé na África
Quem disse que tenho um pé na Senzala?
Eu tenho é um pé na África!
Eu tenho é um pé na África!
Foto depois de assistir Galanga, Chico Rei!
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Recordar 1º ano escolar
1º ano - Grupo Escolar "Pacífico Vieira" no ano 1960
Boas recordações!
Jogo da memória esse lembrar dos nomes dos/as colegas.
Vivi essa fase pra chegar hoje a saudade do que foi/fui!
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
domingo, 18 de dezembro de 2011
A espera do ano virar...
Esperando o Natal chegar,
o ano virar outro ano,
virar dias melhores,
virar esperança,
virar realizações,
virar boas festas...
Muito espero que o ano vire
certeza de amizades,
alegrias repartidas,
sonhos realizados,
vida que chega,
ternura,
aconchego...
Um mundo melhor pra todos/as!
o ano virar outro ano,
virar dias melhores,
virar esperança,
virar realizações,
virar boas festas...
Muito espero que o ano vire
certeza de amizades,
alegrias repartidas,
sonhos realizados,
vida que chega,
ternura,
aconchego...
Um mundo melhor pra todos/as!
domingo, 11 de dezembro de 2011
sábado, 19 de novembro de 2011
terça-feira, 11 de outubro de 2011
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
domingo, 2 de outubro de 2011
Estou inquieta
Escrevo
por que insisto.
Não sou poeta,
Estou inquieta
com palavras seguindo em fileira
na minha mente.
Mente
que(m) assim consente.
Escrevo
pra fixar o instante
que me faz poeta.
Desperta-me
na incerta poesia
que é viver.
por que insisto.
Não sou poeta,
Estou inquieta
com palavras seguindo em fileira
na minha mente.
Mente
que(m) assim consente.
Escrevo
pra fixar o instante
que me faz poeta.
Desperta-me
na incerta poesia
que é viver.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Morre a queniana Wangari Maathai, Prêmio Nobel da Paz de 2004 - O Globo
A perda de uma grande militante negra.
Presentes!

Presente no meu aniversário!
O que poetizam... (pra mim e de mim)
Poema
Sou um sujeito cheio de recantos.
Os desvãos me constam.
Tem hora, leio avencas.
Tem hora, Proust.
Ouço aves e beethovens.
Gosto de Bola-Sete e Charles Chaplin.
O dia vai morrer aberto em mim.
(Manoel de Barros)
E X A U S T O
Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente
Muito mais que raízes.
(Adélia Prado)
Poema de Mario Quintana em A cor do invisivel
Há três coisas cujo gosto não sacia
o pão, á água e o doce nome de Maria.
One Art
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster,
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three beloved houses went.
The art of losing isn't hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.
-- Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) a disaster.
(Elizabeth Bishop)
Sou um sujeito cheio de recantos.
Os desvãos me constam.
Tem hora, leio avencas.
Tem hora, Proust.
Ouço aves e beethovens.
Gosto de Bola-Sete e Charles Chaplin.
O dia vai morrer aberto em mim.
(Manoel de Barros)
E X A U S T O
Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente
Muito mais que raízes.
(Adélia Prado)
Poema de Mario Quintana em A cor do invisivel
Há três coisas cujo gosto não sacia
o pão, á água e o doce nome de Maria.
One Art
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster,
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three beloved houses went.
The art of losing isn't hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.
-- Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) a disaster.
(Elizabeth Bishop)
Die Liebenden
Friedrich Hölderlin
Trennen wollten wir uns? wähnten es gut und klug?
Da wirs taten, warum schröckte, wie Mord, die Tat?
Ach! wir kennen uns wenig,
Denn es waltet ein Gott in uns.
Identidade
Preciso ser um outro
para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"